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Fadiga na Doença de Parkinson

A fadiga é um sintoma não motor mais comum e incômodo na doença de Parkinson (DP). Frequentemente pode anteceder o início da doença e a prevalência aumenta com a sua  progressão , afetando até 15 a 78% (Kluger BM , et al 2017).

A fadiga é determinante na qualidade de vida e na incapacidade física na DP. Interferi com o trabalho na DP, sendo o sintoma mais citado em reivindicações bem-sucedidas do Seguro de Incapacidade da Previdência Social nos Estados Unidos (Herlofson K, et al 2003). Medir a fadiga é uma tarefa difícil. Não existe uma definição universalmente aceita (Friedman JH , et al 2010). Dentre as definições comuns incluem uma sensação de exaustão ou uma falta subjetiva de disposição física e/ou energia mental percebida pelo indivíduo, que interfere na atividade habitual ou desejada (Spirgi S , et al 2019). Apesar da relevância, a fadiga é pouco reconhecida, mesmo nos centros especializados em distúrbios do movimento e seu tratamento é incerto (Sullivan KL, etal 2007). Existem subtipos de fadiga:

  • A fadiga periférica refere-se à fadiga muscular medida  como diminuição da geração de força ou incapacidade de sustentar movimentos repetitivos (Chaudhuri A, et al 2004).
  • A fadiga central é geralmente descrita como um grau anormal de cansaço persistente, com exaustão mental, física ou ambas, na ausência de deficiência fisica (Lou JS et, al 2001).
  • A fadiga física (FF) envolve uma sensação de falta de energia para realizar tarefas físicas, apesar da capacidade e motivação para realizá-las (Associação Americana de Psiquiatria, 2000). 
  • A fadiga mental (FM) refere-se aos efeitos experimentados durante e após períodos prolongados de atividades cognitivas exigentes e tarefas que requerem concentração sustentada, como dirigir em trânsito intenso.

Sobreposição de Fadiga com Distúrbios Neuropsiquiátricos

A interpretação de fadiga é confundida com outros sintomas não motores associados à DP, especialmente depressão, ansiedade, disfunção cognitiva, apatia e distúrbios do sono. Em pacientes com DP, vários estudos mostraram que a fadiga está associada a taxas mais altas de sintomas depressivos, mas também ocorre em pacientes não deprimidos. Em uma série, 43,5% dos pacientes sem depressão, demência ou problemas de sono relataran sintomas de  fadiga (Alves G. et al 2004). Como o tratamento da fadiga é diferente daqueles usados em pacientes com depressão ou ansiedade, é importante detectar a fadiga em pacientes sem sintomas de disrtúbios de humor e comportamento (Hagell P, et al 2009). Os sintomas de fadiga e disfunção cognitiva também se sobrepõem na DP, resultando em várias influências. As alterações cognitivas na DP, mesmo em estágios iniciais, podem incluir dificuldades atencionais que confunde-se ao fenômeno da fadiga mental, manifestando-se como dificuldades de atenção sustentada ou de iniciação de atividades. Entretanto, a fadiga também ocorre em pacientes com DP sem disfunção cognitiva ou com disfunção cognitiva limitada. Os pacientes também podem ser incapazes de distinguir sintomas de fadiga de sonolência.

O método mais prevalente de avaliar a fadiga é por meio de instrumentos de classificação de autorrelato (Schiehser DM , et al 2013).

A Escala de Gravidade da Fadiga- FSS

Escala de Gravidade da Fadiga (FSS) é  genérica, unidimensional, auto-administrada em 9 itens e capaz de medir o impacto da fadiga nas atividades da vida diária (Krupp LB,et al 1989). Utiliza a escala de Likert de sete graus em que são definidos (“discordo totalmente” = 1 a “concordo totalmente” = 7). A pontuação total da FSS representa a pontuação média, sendo que pontuações mais altas indicam maior nível de fadiga. As propriedades psicométricas na DP geralmente se assemelham àquelas em populações sem DP. O FSS discrimina DP de controles saudáveis, e entre pacientes com DP classificados como não fatigados e fatigados conforme medido pela subescala Energy do Nottingham Health Profile (NHP-EN). A FSS demonstra excelente confiabilidade com um valor alfa de Cronbach de 0,94.  No entanto, dois ensaios clínicos sugerem que o FSS responde a mudanças com o tempo e o tratamento na DP. A diferença clínica minimamente relevante (MCID) para o FSS foi estimada em 0,6 (95% CI 0,3–0,9) pontos para Lupus e uma mudança de 10 a 15% no FSS foi sugerida como clinicamente significativa(Horemans HL, et al 2004). FSS é um instrumento válido e reprodutível para avaliar a fadiga em pacientes com DP, no Brasil demonstrou  correlação forte e significativa de sua pontuação com os escores dos domínios do PDQ-39 e com o escore do indice de depressão de Beck (BDI), além de uma correlação moderada com o pontuações HY e UPDRS. A pontuação mediana para o FSS-BR foi de 4,4, variando de 1,3 a 7. A FSS-BR apresenta excelente consistência interna, demonstrada por um coeficiente alfa de Cronbach de 0,95  ((Valderramas S, et al 2012).

Escala de Fadiga de Parkinson

A PFS é uma escala desenvolvida para avaliar aspectos físicos da fadiga em pacientes com DP, quantificar a presença de fadiga e seu impacto na função diária. Sete itens abordam a presença ou ausência da experiência subjetiva de fadiga e nove itens abordam o impacto da fadiga  nas atividades diárias, incluindo socialização e trabalho, mas não especificamente sobre exercícios. As avaliações são baseadas em sentimentos e experiências nas 2 semanas anteriores (Brown RG, et al 2005). Existem três opções de pontuação. A pontuação total da PFS, a pontuação média de todos os 16 itens, varia de 1 a 5. Um método de pontuação binária gera pontuações de 0 a 16, com pontuações positivas para cada item geradas por respostas “concordo” e “concordo totalmente”. Uma terceira opção e mais usada, calcula uma pontuação total da PFS (intervalo de 16 a 80) com base na soma das pontuações dos 16 itens individuais. O PFS discrimina pessoas com parkinsonismo com e sem fadiga e pacientes com DP de controles saudáveis. A avaliação psicométrica do PFS produziu dados de boa qualidade e confiabilidade (α de Cronbach = 0,97-0,98 e consistências internas de 0,90 a 0,97) (Flachenecker P, et al 2006).Como a fadiga é inerentemente multidimensional, com características físicas, emocionais, cognitivas e sociais. A versão em português do Brasil do instrumento revelou que a distimia, a gravidade dos sintomas depressivos, o sexo feminino e a sonolência diurna são importantes fatores associados à fadiga (Kummer A , et al 2011). 

Escala modificada de impacto da fadiga (MFIS-PD/BR

O MFIS mede o impacto da fadiga, os participantes classificam 21 itens em uma escala de 0 (nunca) a 4 (quase sempre). As pontuações variam de 0 a 84, com pontuações mais altas indicando maior impacto da fadiga. MFIS é uma medida multidimensional que avalia o impacto da fadiga nas funções físicas, cognitivas e psicossociais. Schiehser et al, 2012 subsequentemente forneceu a validação da Modified Fatigue Impact Scale (MFIS) para a população de DP, uma escala que não foi incluída no manuscrito da força-tarefa da Sociedade Internacional de Distúrbios do Movimento (IMDS). O alfa de Cronbach para o MFIS-PD/BR foi de 0,878, os coeficientes de teste reteste intraclasse foram superiores a 0,80 (p<0,01) e a análise da curva ROC revelou o MFIS-PD/BR > 29 pontos como ponto de corte para indicar sujeitos fatigados. A validade na versão Brasileira foi convergente entre MFIS-PD/BR e as escalas FSS e PFS-16, sugerindo um nível moderado de associação. A MFIS-PD/BR  correlacionou-se moderadamente com maior ansiedade, incapacidade, desempenho cognitivo mais baixo, doença mais grave ou avançada e foram todos associados a mais fadiga (Josiane LOPES , et al 2020).

Portanto, é impossível distinguir a fadiga que alguém experimenta na DP da fadiga que pode estar associada a depressão, ansiedade, disfunção cognitiva, apatia, medicamentos ou outras condições médicas e psiquiátricas concomitantes.As escalas atuais são todas projetadas como medidas de gravidade e provavelmente são sensíveis a mudanças.


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Referências:

Friedman JH, Alves G, Hagell P, Marinus J, Marsh L, Martinez-Martin P, Goetz CG, Poewe W, Rascol O, Sampaio C, Stebbins G, Schrag A. Fatigue rating scales critique and recommendations by the Movement Disorders Society task force on rating scales for Parkinson’s disease. Mov Disord. 2010 May 15;25(7):805-22. doi: 10.1002/mds.22989. PMID: 20461797.

Valderramas S, Feres AC, Melo A. Reliability and validity study of a Brazilian-Portuguese version of the fatigue severity scale in Parkinson’s disease patients. Arq Neuropsiquiatr. 2012 Jul;70(7):497-500. doi: 10.1590/s0004-282×2012000700005. PMID: 22836454.

Lopes J, AraÚjo HAGO, Smaili SM. Fatigue in Parkinson’s disease: Brazilian validation of the modified fatigue impact scale. Arq Neuropsiquiatr. 2020 Jul 22;78(8):473-480. doi: 10.1590/0004-282×20200033. PMID: 32725051.

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