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Como avaliar o comprometimento cognitivo na doença de Parkinson: MoCA

Em relação ao Parkinson o que valorizar na avaliação cognitiva para diferenciar um evelhecimento normal, do deficit cognitivo leve e a Doença de Alzheimer no estagio inicial?

Estima-se que maioria dos pacientes com doença de Parkinson (DP) desenvolva comprometimento cognitivo ou demência nos estágios avançados (Hely MA, et al 2008). Disfunção cognitiva é frequente em pacientes com DP. Limita a qualidade de vida, aumenta a sobrecarga do cuidador, é importante na indicação para institucionalização, está relacionada ao prognóstico da doença e mortalidade (Velseboer DC, et al 2013). O comprometimento cognitivo leve (CCL ou MCI) é um estado clínico intermediário entre o envelhecimento cognitivo normal e a demência, e precede à demência em muitos casos. Vários estudos e imagens suportam a natureza transitória do MCI (Petersen RC, et al 1999). Cerca de 20% pacientes novos com DP não medicados apresentam sintomas cognitivos, CCL afeta 27% e 30% dos pacientes DP desenvolvem demencia relacionada ao DP ( Litvan I, et al 2012). O conceito comprometimento cognitivo leve (MCI ou CCL) é novo, em evolução e controverso, mas há um consenso quanto a definição clínica e prognóstico (Chertkow H, et al 2002). A maioria dos indivíduos com CCL pontuam acima de 26 no Mini estado exame mental (MEEM), que é uma faixa para idosos normais. O Montreal Cognitive Assessment (MoCA), foi desenvolvido como ferramenta de triagem para medir comprometimento cognitivo leve (CCL), apesar da semelhança com MEEM, o MoCA é mais sensível na identificação do MCI ou CCL. Mini exame do estado Mental (MEEM) é o mais utilizado pelos médicos na linha frente para detecção de demência, porém dificuldades foram relatadas para detectar demência precoce (Folstein MF, et al 1975). O MoCA também se mostrou adequado para diferenciar pacientes com DP com diferentes estados cognitivos ( sem déficit, com comprometimento leve ou demência) de controles saudáveis (Dalrymple-Alford JC, et al 2010).

Avaliação Cognitiva Montreal (MoCA)

Desenvolvida para rastrear comprometimento cognitivo leve (CCL), teste com 30 pontos é administrado em 10minutos, abrange uma gama de funções executivas. O teste tem 06 questões de orientação e uma tarefa de memória de cinco palavras. Uma tarefa de relógio e o teste de cubo que avaliam a função visuoespacial. Atenção /concentração usando série de 7s, toque no alvo e extensão de dígitos para frente e para trás. Tarefa de nomeação e repetição de confrontação avaliam a linguagem. As funções executivas são avaliadas usando uma versão de abreviada do teste Trail Making B, fluência fonêmica e uma tarefa de abstração verbal (Nasreddine ZS , et al 2005). Foram identificados 04 estudos que usaram MoCA e identificaram sensibilidade do teste em acusar alterações cognitivas leves (Gill DJ, et al 2008). Boa sensibilidade (0,82) e especificidade (0,75) para demência , cujo ponto de corte 24/25 (Hoops S, et al 2009). Para triagem do MCI em DP, o MoCA teve sensibilidade (0,83) e especificidade (0,53) um ponto de corte de 26/27. 

 Teste-reteste:

  • Coeficiente intraclasse 0,79 ( 95% CI: 0,36-1,2)
  • Coeficiente entre examinadores 0,81
  • coeficiente correlação para bateria neuropsicológica 0,72
  • coeficiente entre o MoCA e MEEM 0,66

Diferenças de Grupo , Sensibilidade, Especificidade do MEEM e o MoCA.

A sensibilidade e especificidade foi obtida pelo diagnóstico clínico, um ponto de corte de 26 pontos rendeu um equilíbrio para os grupos CCL e DA. A mesma pontuação de corte 26, foi usada para o MEEM para fins de comparação, porque não havia pontuação única ideal que atendesse a todos os propósitos. A sensibilidade foi calculada separado para os grupos MCI e DA, os escores do MoCA exibiu 90 e 100% respectivamente. Contrapartida a sensibilidade do MEEM foi baixa (18 e 78% respectivamente). A especificidade foi definida como a porcentagem de corte com pontuação igual ou superior 26. MEEM teve excelente especificidade 100% da nota de corte e o MoCA teve especificidade boa a excelente 87%. De fato de acordo com a figura  1  a maioria dos participantes do MCI e alguns com DA leve tiveram pontuações MEEM na faixa normal. Em contraste poucos participantes com MCI e nenhum participante DA pontuaram na faixa normal no MoCA.

Resultados entre MEEM e MoCA
Figura 1.Pontuações médias do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) e Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA) - desvios padrão para controles normais (NCs) e indivíduos com comprometimento cognitivo leve (CCL) e doença de Alzheimer (AD).

Quando os escores do MEEM e MoCA foram plotados juntos na Figura 2, surgiu um padrão marcante.  A grande maioria do grupo controle pontuou na faixa normal e a grande maioria dos pacientes com DA na faixa anormal tanto no MEEM quanto no MoCA. Em contraste , 73% dos participantes do MCI pontuaram na faixa anormal no MoCA , mas na faixa normal no MEEM.

Figura 2.Gráfico de dispersão das pontuações da Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA) e do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) para controles normais (NCs) e indivíduos com comprometimento cognitivo leve (CCL) e doença de Alzheimer (DA).

MoCA alta confiabilidade teste-reteste, boa consistência interna e equivalência. A validade foi estabelecida por meio de uma estreita correlação entre os scores MoCA e MEEM. Sensibilidade para detectar MCI foi excelente (90%) sendo maior do que MEEM. O MoCa também detectou DA leve com alta sensibilidade (110%) e excelente especificidade (87%). Ao comparar o desempenho do MEEM e MoCA nos mesmos participantes ( Fig 2), é extremamente improvável que os pacientes rastreados e com pontuação MoCA acima de 26 atendam aos critérios clínicos e neuropsicológicos para MCI. Enfim o MoCA serve como triagem e fornece condições para orientação e encaminhamento quanto a investigação adicional de CCL ou MCI. MoCA tem vários recursos que explicam sua sensibilidade superior para detectar MCI, por exemplo: O teste de memória do MoCA envolve mais palavras, menos tentativas de aprendizado e um atraso maior antes da recuperação do o MEEM. Além de tarefas mais complexas e numerosas do que MEEM para avaliação da função executiva, processamento visuoespacial e habilidades de linguagem.

Diferenças entre os estágios H&Y

 A faixa de pontuação MEEM foi de 16 a 30 e no MoCA 6 a 28. Figura 3 mostra pontuações médias de MEEM e MoCA para os estágios I-IV de Hoehn e Yahr (HY):

  • Estágio: I-II = média MEEM  27,6 (2,5) e MoCA 21,2 (4,8)
  • Estágio III=  média MEEM 26,9 (3,5) e MoCA 21,2 (4,8)
  • Estágio IV-V = média MEEM 25,4(3,0) e MoCA 19,9,9 (4,3)
Figura 3- Pontuação média de MEEM e MoCA por gravidade da doença. As as barras são intervalos de confiança de 95%

Figura 4 mostra a pontuação correspondentes MEEM e MoCA  na duração dos sintomas.

Figura 4 Gráfico de dispersão dos escores MEEM e MoCA versus sintoma duração.

Nenhum efeito teto foi observado no MoCA nesses indivíduos. As pontuações relativamente mais baixas e a falta de um efeito de teto sugerem que o MoCA pode ser mais capaz de discriminar disfunções cognitivas precoces e/ou leves na DP do que o MEEM.

Portanto uma abordagem prática para diferenciar envelhecimento normal, CCL e D. Alzheimer leve

Pacientes que apresentam queixas cognitivas e comprometimento funcional tem maior probabilidade de sofrer de demência. Neste caso é recomendável administrar  MEEM primeiro , pois é provavel que seja anormal em 785 daqueles com DA leve, caso o MEEM for normal 26 , o MoCA deve então ser administrado, porque 100% daqueles com DA leve tiveram 100% um escore MoCA anormal.

Em contraste pacientes com queixa cognitivas , mas sem comprometimento funcional provavelmente são normais ou tem CCL. Nesses paciente deve-se adminitrar primeiro o MoCA porque o MEEM provavelemnte porduzirá uma pontuação normal em ambos os casos. Essa aboradagem melhora a eficiencia na avaliação de pacientes com queixas cognitivas , separa os pacientes CCL daqueles com DA leve.

Não existe ferramenta de triagem que avalia rapidamente diferentes niveis de comprometimento cognitivo. MoCa é útil em estágios mais leves ( CCL e DA leve) e o MEEM é superior para estágios mais avançados de DA e com comprometimento funcional. Os itens que discriminaram os participantes com DA com pior desempenho dos CCL: criação de trilhas, desenho de cubos, relógios, nomeação, recordação atrasada, fluência fonemica, abstração e orientação. As seguintes tarefas discriminaram os participantes com DA dos CCL e controle, que não diferiram entre si: extensão de digitos, atenção sustentadas e a tarefa de calculo serial (Wind AW, et al 1997). Os participantes com CCL e DA tiveram um desempenho igualmente ruim na tarefa de repetição de setenças. A recordação atrasada foi o item mais prejudicado nos participantes com CCL. Por fim o MoCA é uma ferramenta importante de triagem cognitiva simples e autonoma com sensibilidade superior. Teste – reteste excelente confiabilidade. Com boa capacidade de distinguir pacientes com CCL e idosos saudáveis.


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Referência:

Chou KL, Amick MM, Brandt J, Camicioli R, Frei K, Gitelman D, Goldman J, Growdon J, Hurtig HI, Levin B, Litvan I, Marsh L, Simuni T, Tröster AI, Uc EY; Parkinson Study Group Cognitive/Psychiatric Working Group. A recommended scale for cognitive screening in clinical trials of Parkinson’s disease. Mov Disord. 2010 Nov 15;25(15):2501-7. doi: 10.1002/mds.23362. PMID: 20878991; PMCID: PMC2978783.

Gill DJ, Freshman A, Blender JA, Ravina B. The Montreal cognitive assessment as a screening tool for cognitive impairment in Parkinson’s disease. Mov Disord. 2008 May 15;23(7):1043-1046. doi: 10.1002/mds.22017. PMID: 18381646.

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